Em rede, interativamente, vamos cibervivendo.
navegar é preciso, viver não é preciso
... continuando a falar sobre culturas midiáticas, ciberespaço, internet e outros termos que envolvem a cultura, a partir da produção-reprodução-ação de textos no âmbito da comunicação, é oportuno dizer que muita coisa do que chega ao grande público agora, como sinal dos novos tempos e, muitas vezes, nem atinge à grande massa, é imediatamente substituído por outra tecnologia, parece muito atual, pós-moderno, contemporâneo. Às vezes nem é.
Desde a primeira metade do século XX, temos vivido tempos de acelerado processo de desenvolvimento comunicacional, tanto no âmbito da produção como na divulgação das informações.
Em tempos hipermidiáticos, surge uma outra proposição possível para o termo hipertexto. Podemos dizer que a negociação entre seres humanos e máquinas no processo de comunicação deu origem a uma nova linguagem: um imenso sistema interativo configurado através de uma sintaxe a-linear tecida a partir de nós e as ilimitadas possibilidades que nos aparecem. Hoje e em um futuro bem próximo, através de demandas imediatas. Exemplo disso foi o processo de digitalização da comunicação até então analógica. Na tecnologia digital, o armazenamento é dinâmico e a qualidade permanece perfeita, diferentemente do sinal analógico que se degrada facilmente.
O termo hipertexto foi cunhado por Theodor Nelson nos anos 1970, para descrever um sistema de escrita não sequencial, que permitia desmembramentos, cortes e escolhas do leitor em sua composição, reprodução e divulgação. A própria interatividade o fez expandir para uma nova forma de mídia que utiliza o poder do computador para arquivar, recuperar e distribuir as informações nos mais variados formatos: gráficos, figuras, animações, áudios, vídeos e até textos, em mundo dinâmicos, agora também conhecidos como hipermídia.
A propósito da recuperação dos textos, pode-se levar para o campo das perspectivas de análise e o que a interatividade e a atualização contextual podem proporcionar aos ressignificados textuais. Ao escrever sua célebre frase "Navegar é preciso, viver não é preciso", Luís de Camões (1524-1580) jamais poderia imaginar uma releitura tão aprofundada/modificada como a que é possível nos dias atuais. Na década de 1960, seu compatriota José Saramago (1922-2010), identificou que a "verdadeira" interpretação da frase estaria centrada no outro significado da palavra "preciso", não mais como sinônimo de necessidade, mas de precisão, exatidão, delimitação.
Hoje, nenhum dos dois patrícios ousariam imaginar que a magnitude interpretativa da frase estaria na diversidade de sentidos da palavra navegar. Quem seria?
Muito do que se vê hoje vem da mente brilhante de poetas, escritores, inventores de fundo de quintal, da mimesis, da transpiração do fazer-se humano na difícil e não facultativa necessidade de superação. Em "2001 - uma odisseia no espaço" (2001: A Space Odyssey produzido e dirigido por Stanley Kubrick, foi baseado parcialmente no romance "The Sentinel", do escritor e inventor britânico Arthur C. Clarke, que também assina o roteiro cinematográfico), filme de 1968, por exemplo, muitas das tecnologias apresentadas como ficção passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas logo na década posterior à obra. Claro que outras das tecnologias apresentadas na tela nunca saíram dos sonhos (ou pesadelos) dos autores e atores do filme.
A inteligência artificial é uma delas, momentaneamente. O filme "Inteligência Artificial" ("A. I. Artificial Intelligence", de 2001, cujo diretor Steven Spiellberg baseou-se no conto "Supertoys Last All" e nos projetos de Stanley Kubrick) é outro marco da ficção com requintes de realidade antecipada.
A palavra "cyberspace", por exemplo, foi inventada e empregada pela primeira vez pelo autor de ficção científica William Gibson, em 1984, no romance "Neuromancer". Hoje, o ciberespaço sedimentou-se como um nome genérico para se referir a um conjunto de tecnologias diferentes, algumas familiares, outras só recentemente disponíveis, algumas sendo desenvolvidas e outras ainda ficcionais.
A genealogia de "ciberespaço" deriva da teoria cibernética de Nobert Wiener (1948). Segundo Santaella, a palavra "cibernética" foi por ele cunhada para descrever uma nova ciência que une a teoria da comunicação com a teoria do controle. Para Wiener, a cibernética engloba mente e corpo humanos e o mundo das máquinas automáticas.
O ciberespaço é uma realidade multidimensional, artificial e virtual globalmente em rede, sustentada e acessada pelo computador, uma realidade virtual onde entramos e saímos através de redes interligadas ou não em todo o planeta: a internet. E isso é uma realidade, nem tão atual ou contemporânea. Aliás, na pressa hiperativa da sociedade atual, onde a realidade aparece em via dupla: a tecnologia digital acelera o processo de desenvolvimento e o desenvolvimento acelera a inovação dos processos tecnológicos, em um moto-contínuo complexo e dinâmico. Alguns autores denominam de pós-modernidade, enquanto Baumman chama de modernidade líquida.
É oportuno lembrar, segundo Castells (1999), que o desenvolvimento e a difusão da comunicação eletrônica, apesar de uma demanda governamental com fins militares, teve origem em espaços universitários. Em 1969, um processador de mensagens foi construído em um minicomputador da Universidade da Califórnia e foram dois estudantes da Universidade de Chicago que criaram o modem, em 1978.
Então, voltando ao fato de a era digital não ser algo tão atual na sociedade contemporânea, lembramos alguns aspectos e fissuras temporais das tecnologias desde a metade do século XX. O computador passa a fazer parte da vida das pessoas a partir da década de 1970 e a década de 1980, com a introdução dos microcomputadores pessoais e portáteis, passa a ser identificada como a Era da Informação (ou ainda como a Era Digital). O uso amplo da internet começou de fato em 1983.
Nos últimos anos da década de 1980 e durante toda última década do século XX, fomos nos acostumando, tornando-nos hábeis e demandamos mais tecnologias, como: gravação de vídeos com áudio em máquinas fotográficas, telefones móveis que ofereciam possibilidades de contatos via rede e mídias cada vez mais interativas. E assim, em rede, interativamente, vamos cibervivendo...